----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

agronegócio sustentável

A era do agronegócio sustentável
Momento exige mudanças de conceitos e atitudes


Caio Cigana

Mais do que um diferencial, produzir com sustentabilidade no campo já é a chave para abrir portas em mercados mais exigentes e eliminar barreiras não tarifárias. E o que num primeiro momento parece ameaça se transforma em uma oportunidade.

O fracasso da conferência do clima pelo argumento de algumas das principais potências que teriam pesado prejuízos econômicos caso tivessem de realizar grandes cortes nas emissões causadoras de efeito estufa não se aplica ao agronegócio brasileiro. A agricultura e a pecuária do país, sustentam pesquisadores, só têm a ganhar ao adotar técnicas conhecidas e consideradas simples que, ao mesmo tempo, mitigam a liberação de gases causadores do aquecimento global e elevam a produtividade das propriedades.

Para o superintendente do Instituto para o Agronegócio Sustentável (Ares), Ocimar Villela, o marco do início da pressão sobre o Brasil foi a recusa da Europa de adquirir carne bovina produzida em áreas desmatadas, há cinco anos. Em 2006, foi a vez da chamada Moratória da Soja, o que levou as indústrias de óleo vegetal a se comprometerem em não adquirir o grão de lavouras abertas com derrubadas de floresta do bioma amazônico. A bola da vez é a pecuária, com a Moratória da Carne.

Participante de um estudo sobre as emissões de dióxido de carbono (CO2) e outros gases de efeito estufa na agricultura, o pesquisador Carlos Eduardo Cerri, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, da Universidade de São Paulo (USP), diz que grande parte do agronegócio brasileiro é hoje forçado a adotar práticas corretas.

– Para se exportar etanol, é preciso estar de acordo com uma série de aspectos de sustentabilidade social e ambiental. São barreiras não tarifárias que criam para o Brasil. O mesmo com o suco de laranja, que concorremos com os Estados Unidos, e com o café – ilustra Cerri.

Na opinião de Villela, em breve o produtor que desrespeitar a natureza não terá apenas dificuldade de comercialização. Segundo ele, o sistema financeiro irá cada vez mais observar regras de sustentabilidade ambiental e social no momento de analisar a liberação de crédito.

– As propriedades também terão de ter uma gestão socioambiental, com controle dos efluentes, reciclagem de embalagens de agrotóxicos e respeito a direitos trabalhistas. O mercado financeiro também quer, de alguma forma, mostrar que está contribuindo para o controle de emissões – diz.

A questão do desmatamento, acrescenta Villela, é só o começo. Chegará também a hora em que o produtor se verá impelido a adotar técnicas que diminuam emissões, como o plantio direto, a integração lavoura-pecuária, a recuperação de pastagens degradadas e o confinamento.

– Apenas agora as emissões da agropecuária vêm sendo discutidas de forma mais profunda. Antes, a preocupação era apenas com as florestas – destaca o pesquisador da Embrapa Informática Agropecuária Giampaolo Pellegrino, que esteve na conferência climática de Copenhague.

O que está sendo feito:

APROPAMPA
Associação que reúne pecuaristas, frigoríficos e varejo para preservar e proteger a indicação geográfica da carne, couro e derivados da região do pampa gaúcho da Campanha Meridional. Além de geração de renda por agregação de valor, um dos objetivos é preservar o bioma do pampa nos municípios ligados ao projeto. Uma das regras para participar é alimentar os animais em pastagens nativas, podendo ainda ocorrer a terminação em pastagens de inverno, nativas ou exóticas, desde que em regime extensivo.

PROJETO BIOMAS
Parceria entre Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil, Ministério da Agricultura e Embrapa, foi criado para promover o uso sustentável de paisagens dos biomas brasileiros sem comprometer a rentabilidade da atividade agropecuária. Serão realizados estudos científicos para recuperar áreas de cobertura nativa em propriedades rurais de Amazônia, caatinga, cerrado, Mata Atlântica, pampa e Pantanal.

SUPERMERCADOS E FRIGORÍFICOS
Os principais frigoríficos brasileiros e a Associação Brasileira de Supermercados (Abras) criaram o Programa Abras de Certificação de Produção Responsável na Cadeia Bovina. As redes se comprometem a não comprar carne de indústrias que adquirem animais de propriedades que não adotam boas práticas ambientais e sociais. O certificado será utilizado na embalagem, possibilitando que o consumidor tenha a informação sobre a origem do produto.

BOI GUARDIÃO
O Ministério da Agricultura lançou o programa Boi Guardião. O objetivo é combater o desmatamento na Amazônia por pecuaristas. Consiste em monitorar por imagens de satélite as áreas de fazendas e bloquear a emissão de Guias de Trânsito Animal (GTA), quando o produtor derruba árvores para ampliar as pastagens. A primeira fase foi lançada no Pará.

LINHAS VERDES DO PRONAF
Surgiu em 2005, quando o Pronaf passou a oferecer linhas específicas de crédito rural para estimular a transição agroecológica nas propriedades familiares. A modalidade Agroecologia financia a produção orgânica. O Pronaf Eco dá crédito para a adoção de técnicas que reduzem o impacto da atividade rural no ambiente, enquanto a categoria Floresta apoia investimentos na exploração de sistemas agroflorestais.

Texto divulgado originalmente no site: http://ef.amazonia.org.br/
Foto: http://www.geografiaparatodos.com.br/ - Paulo Cesar F. Teixeira

Nenhum comentário:

Postar um comentário