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quarta-feira, 7 de abril de 2010

Tecnológica, Sustentabilidade e Cooperação

Tecnológica, Sustentabilidade e Cooperação

Por Mario Barra

As imagens do sofrido povo haitiano deixam profundas marcas em nossos corações e mentes. São testemunhos do quanto é difícil a vida dos quatro bilhões de seres humanos deste planeta, população excluída da economia formal, que sobrevive com menos de US$ 3 por dia. Nossa referência é sempre os (apenas) 800 milhões que ganham mais de US$ 15 mil por ano. Completando a população mundial de 6,3 bilhões, existe o segmento dos que vivem na classe emergente, ávidos por ascender a padrões razoáveis de bem-estar.


Se para atender a essa demanda reprimida produzirmos sem sustentabilidade, não sobrará planeta. Precisamos mudar radicalmente o modelo atual, aprendendo a produzir mais com menos, sem agredir o meio ambiente. Para tanto, é preciso inovar, atribuição especifica das empresas, já que é através delas que o conhecimento é concretizado em produtos que atendam necessidades e melhorem a qualidade de vida dos consumidores.


O tamanho do desafio é imenso, pois além da inclusão de 2/3 da população mundial, será preciso atender ao seu aumento projetado para 10 bilhões, em 2050. Para medir o salto tecnológico e as inovações necessárias, devemos considerar o impacto ambiental como diretamente proporcional à população, ao patamar de consumo e à tecnologia usada. Considerando cada variável a menos do surgimento de uma pandemia, a tendência é a população mundial crescer, o consumo é a medida direta da melhoria do padrão de vida, aspiração natural da população que vive na base da pirâmide. Dividindo os US$ 25 trilhões dos sete milhões de milionários, sobrarão US$ 6 mil para cada um dos excluídos, o que é bom, mas não resolve. A única saída é, ao invés de dividir os peixes, aprender a pescar mais e melhor, pela via da inovação tecnológica. Na escala requerida, iniciativas pontuais não darão solução ao problema. Só a mega escala de uma explosão de inovações tecnológicas, partindo da mobilização e engajamento da indústria, dará condições para criação de uma massa crítica necessária para alcançar a dimensão da resposta requerida.

De acordo com Stuart Hart, uma das maiores autoridades mundiais no efeito das estratégias empresariais sobre o meio ambiente e pobreza e professor de administração da Universidade de Cornell (EUA), a atividade econômica precisa ser multiplicada por dez para atender as necessidades da população projetada. Só a energia é responsável por 25% das emissões de gases efeito estufa. Se essa geração for multiplicada por dez, não haverá planeta que sobreviva a tal poluição. Só inovação tecnológica e que de fato agrega valor, fruto do conhecimento muitas vezes já disponível, resolve e precisa ser multiplicada por vinte para amenizar o impacto ambiental, segundo Hart, e será a maior oportunidade de mercado para as empresas inovadoras, conclui o autor, palestrante convidado da X Conferência Anpei – Associação Nacional das Empresas Inovadoras, que será realizada em Curitiba de 26 a 28 de abril.


Para citar só um exemplo: iluminação por LED precisa quase dez vezes menos energia para se obter o mesmo efeito de uma lâmpada incandescente. Porque, então, não é usada? A resposta é: pela forma como a sociedade valoriza os produtos - título do último livro de Hart “Capitalismo na Encruzilhada” - e pela falta de difusão do conhecimento via inovação tecnológica. No entanto, é preciso ressaltar que o Brasil possui empresas que lidam a inovação como prioridade, tendo alcançado uma eficiência em sua gestão e cooperação interna e externa. Essa prática, que também será demonstrada durante a Conferência de Curitiba, deve ser incentivada para que mais companhias comecem a adotar a inovação como questão para a sobrevivência do planeta e não apenas para competitividade mercadológica.

*Mario Barra é membro da diretoria da Anpei (Associação Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento das Empresas Inovadoras) e Coordenador da X Conferência Anpei

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