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quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Prateleiras mais saudáveis e também lucrativas

Maior acesso aos bens de consumo leva indústrias alimentícias a atender novas classes de consumidores

O aumento da renda do brasileiro e a alta na venda de produtos de varejo, impulsionada pela indústria alimentícia, estão ampliando a variedade de produtos e mudando a forma como as empresas se relacionam com o cliente no setor de alimentos. Essa nova relação entre a indústria alimentícia e consumidor também trouxe mudanças na legislação brasileira. Quem antes oferecia o que bem entendia nas prateleiras, hoje precisa repensar seu papel na sociedade para poder continuar em crescimento.

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), órgão responsável pela formulação e fiscalização das normas de produção e venda de alimentos no Brasil, vem pressionando cada vez mais as empresas para garantir as boas práticas de fabricação. Em junho, a Anvisa se envolveu numa polêmica com o setor produtivo, ao publicar uma portaria que obriga as empresas a vincular em suas peças publicitárias alertas sobre os prejuízos que o excesso de sal, gordura e açúcar podem causar à saúde. Ou seja, obrigando as empresas que não respeitarem os limites do que é considerado saudável a “autocondenarem” em suas próprias embalagens. A decisão está suspensa por recomendação da Advocacia Geral da União para análise da competência da agência em regular a publicidade de alimentos, que é questionada pelos fabricantes.

A Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação (Abia) informou, em nota oficial, ser contra a resolução da Anvisa que obriga as empresas do setor a colocar alertas nas propagandas sobre os riscos à saúde do consumo excessivo dos alimentos muito doces, salgados ou gordurosos. Para a entidade, o que deve ser respeitado é a própria mudança de hábitos do seu consumidor e que esse processo já acontece naturalmente. “Essa preocupação é muito mais reflexo dos hábitos alimentares da população do que da composição dos produtos industrializados”, opina em nota.

Além disso, a associação argumenta que a medida da Anvisa apresenta “impropriedades constitucionais e técnicas”. Uma delas, segundo a Abia, é de que alimentos e bebidas não alcoólicas não integram a lista de produtos que devem ter advertência definida pela Constituição Federal – que inclui, tabaco, remédios e agrotóxicos. No entanto, caso a decisão da Anvisa passe a valer, os fabricantes têm seis meses para se adequar às novas regras. Quem descumprir as exigências sofrerá sanções – desde notificação, interdição a pagamento de multa, que poderá variar de R$ 2 mil a R$ 1,5 milhão.

Mercado emergente

A preocupação do Governo com o que a população anda consumindo não é à toa. O volume de vendas no varejo brasileiro subiu 11,5% no primeiro semestre. E este é o melhor resultado para o período desde o início da série calculada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2001. E o grande responsável pela alta foi o consumo nos supermercados, de produtos alimentícios, bebidas e fumo, que refletem um volume de vendas que subiu 10,4% no primeiro semestre.

No entanto, ao mesmo tempo em que os números mostram que a população consome cada vez mais, muitas empresas já perceberam que as pessoas também buscam maior qualidade no que é produzido. A população quer cada vez mais alimentos saudáveis e que se adequem à correria do dia-a-dia. Um exemplo é o aumento do consumo dos alimentos light e diet nos supermercados, representando que a população quer de alguma forma diminuir a quantidade de gorduras e açúcares dos alimentos consumidos.
Essas variedades consideradas mais saudáveis são também as mais rentáveis. Pesquisa realizada pela Associação Brasileira das Indústrias de Alimentos Dietéticos para Fins Especiais e Suplementos Alimentares (Abiadsa) revelou que alimentos diet e light são consumidos em cerca de 35% dos domicílios, com um crescimento do faturamento de quase 900% dessa indústria.

Pensando nesse lucrativo filão, os supermercados Pão de Açúcar, por exemplo, lançaram já há alguns anos a linha Taeq. O nome já diz tudo: une duas palavras de origem oriental: TAO (equilíbrio) + EKI (energia vital). De acordo com o grupo, a marca Taeq oferece soluções que ajudam a manter o equilíbrio do corpo e da mente do consumidor. São mais de 1200 produtos divididos em cinco diferentes seções: Nutrição, Orgânico, Beleza, Casa e Esporte.
Na Taeq Nutrição, por exemplo, a ideia é oferecer ao consumidor dos supermercados uma opção de alimentação balanceada, que também ser pode ser rápida e prática também, como qualquer bom industrializado. De acordo com a marca, a diferença está nos ingredientes. “São opções leves e equilibradas, com baixos teores de gordura e muito saborosas”, garante o texto da assessoria de imprensa da marca.

No caso das cooperativas, a procura por atender as necessidades do consumidor cada vez mais exigente se deu por meio dos investimentos no valor agregado, como diferentes cortes de carne e produtos previamente temperados, conforme explica o assessor da gerência técnica e comercial da Ocepar (Organização das Cooperativas do Estado do Paraná), Robson Mafioletti. Para ele, o crescimento dessas exigências teve início nos anos 1990, com a criação do Código de Defesa do Consumidor, e se ampliou com a concorrência e o maior acesso da população aos bens de consumo.

A necessidade de atender ao crescente mercado brasileiro foi tanta que a Ocepar criou em 2006 uma assessoria comercial específica para o varejo, com o intuito de orientar as cooperativas a explorarem o seu potencial competitivo. “As cooperativas estão investindo mais na agroindústria, por isso instituímos em 2006 o Fórum do Varejo, que possui várias ações para ampliar a participação no mercado”, ressalta Mafioletti. Entre as ações da assessoria estão a orientação dos associados para o melhor uso do potencial de imagem da gestão responsável das cooperativas, como a rastreabilidade da produção e os benefícios ao pequeno produtor, como forma de atrair mais consumidores.

Já a Nutrimental procurou fortalecer o portfólio de produtos para atender às classes emergentes. Para isso, lançou novas opções de mingau, barras de cereal e aveia, segundo o gerente de marketing e vendas da empresa, Rodrigo Motta. Além disso, a Nutrimental procurou investir em novas plataformas de comunicação, como a internet, para ampliar o relacionamento com o cliente.

Na opinião da Nestlé, o mercado atual possui uma maior demanda por alimentos saudáveis, motivo pelo qual vem ampliando os investimentos em pesquisas nas áreas de nutrição, saúde, qualidade e segurança alimentícia. E a gigante mundial de alimentos industrializados tem bons planos para o consumidor brasileiro, afinal o país já é quase o terceiro maior mercado da Nestlé, superando até mesmo o tradicional mercado da Alemanha. A multinacional indica que está de olho num mercado extra de 1 bilhão de potenciais novos consumidores nos países emergentes em dez
anos.

Mercado exterior

Para o assessor da gerência técnica e comercial da Ocepar, outro fator importante para a melhora na qualidade e no aumento das exigência internas foram as exportações e as necessidades do mercado exterior. “A exportação aumenta a competitividade. Se você não obedecer as exigências, está fora. Isso influenciou a produção no mercado interno, que acabou se beneficiando”, avalia Mafioletti.

Por outro lado, o gerente de marketing da Nutrimental lembra que as exigências da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), responsável pela fiscalização e regulação do segmento, se baseia em normas internacionais, e que embora cada país tenha suas características, sempre se aprende com a relações com o exterior. Entre as referências da agência brasileira para a qualidade dos produtos estão as normas estabelecidas pela União Europeia, pelo comitê da FAO – Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação – e pelo Mercosul.


O novo perfil do mercado consumidor

Segundo estudo do Ministério da Fazendo divulgado em agosto, a classe média no Brasil terá 113 milhões de pessoas até 2014, representando 56% da população no país. O dado foi apontado pelo relatório “Economia Brasileira em Perspectiva”, que indica um aumento de 9,7% da classe C em quatro anos.
Composta por 103 milhões de brasileiros com rendas entre R$ 2.040 e R$ 5.100, a classe C registrou um salto de 56% de 2003 para cá. Conforme o estudo, nesses sete anos cerca de 37 milhões de brasileiros saíram da base da pirâmide social. O poder de compra das classes C e D evoluiu e houve aumento de participação no ranking de potencial de consumo. É um novo mercado que as empresas devem ficar de olho.

Matérias publicadas originalmente na edição 19 - Revista Geração Sustentável(Fábio Cherubini) Clique na imagem e tenha acesso às últimas edições!

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