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terça-feira, 28 de setembro de 2010

Sustentabilidade: O triunfo do verde

A sustentabilidade deixou de ser uma moda passageira para fazer parte do ADN das marcas e produtos, em todas as etapas do seu ciclo de vida

Primeiro, descobrimos que o verde era bom. Depois, ficamos a saber que também podia ser bonito. A trendsetter Li Edelkoort antecipou há pelo menos uma década aquilo que hoje é uma realidade: a imagem estereotipada que associava a "onda" ecológica a produtos pouco atraentes, rudimentares e de segunda escolha deixou de fazer sentido. O que faz sentido, e muito, é que os produtos sejam desenhados para serem 'verdes', sim, mas também belos, apetecíveis e sedutores. E não é por acaso que o seminário de tendências de Edelkoort para o verão de 2012, aplicado a indústrias tão diferentes como a moda e a alimentação se intitula, precisamente, "Earth Matters" (a terra importa).

Hoje, os produtos sustentáveis que inundam os mercados estão seguramente na primeira linha. São bio, eco, e tudo o que quisermos, mas são sobretudo cool, não apenas porque dizem muito sobre a consciência ambiental de quem os compra mas também porque se tornaram visual e emocionalmente atraentes.

Esta mudança deve-se, em grande parte, ao trabalho dos designers, que respondem às novas exigências dos consumidores com produtos inovadores, eficientes e de baixo impacto ecológico, sem sacrificar - antes pelo contrário - o seu apelo estético.Para se diferenciar e atrair a atenção do consumidor num mercado, que, apesar de 'verde', não deixa de ser feroz, não basta que um produto seja biodegradável. É preciso que seja bioagradável, isto é, que seja visual, sensorial e emocionalmente apelativo e atraente.

A emergência de um novo tipo de consumidor, informado e exigente, que para além da performance, das funcionalidades e da estética de um determinado produto, se interessa pela sua pegada ambiental (que materiais são usados, quais os métodos de produção, que energia consome, que desperdícios gera, qual o seu tempo de vida) empurra a questão da sustentabilidade para o núcleo de cada vez mais empresas. E os designers respondem com produtos à altura do novo contexto.

Acompanhando este movimento, a Taschen acaba de editar o livro "O Design de Produto na Era da Sustentabilidade", que recolhe mais de 100 projetos inovadores - muitos deles premiados - oriundos de mais de 20 países. A sustentabilidade está inscrita no ADN destes produtos desenvolvidos por alguns dos mais destacados ateliês de design do mundo, como a IDEO, a FuseProject, a Frog Design e a NewDealDesign. O livro, que contém fichas explicativas para cada produto, está organizado por áreas (eletrónica, energia, mobiliário, alimentação, vestuário, etc.) que dão conta da transversalidade da "onda verde". Assim, descobrimos chocolates com um impacto ambiental reduzido, computadores energeticamente eficientes, ténis com uma pegada ambiental quase invisível e até caixões de cartão, totalmente biodegradáveis, a metáfora perfeita para a ecologia no fim de vida de um produto.


Sustentável ou não, eis a questão


A definição de "design sustentável" não é consensual, até porque a própria sustentabilidade assume várias formas e não é facilmente mensurável. Em princípio, para ser verdadeiramente sustentável, um produto deve ser amigo do ambiente em todas as etapas do seu ciclo de vida: na conceção, no fabrico, na distribuição, na utilização (estima-se que 80% da pegada ambiental de um produto é gerada durante o uso) e na eliminação. Mas a realidade é que isso raramente acontece. Assim, a célebre máxima "Reduce, Reuse, Recycle" é muitas vezes posta em prática colocando a ênfase em apenas um dos três erres. Alguns optam por reduzir (produzindo menos ou consumindo menos), outros encontram novos usos para produtos antigos (mas até aqui parece haver um paradoxo, pois às vezes reutilizar é mais prejudicial do que fazer de novo) e outros ainda escolhem reciclar.

A verdade é que a questão da sustentabilidade passa de tendência - colada, muitas vezes a posteriori, ao produto - à própria essência do objeto.

No planeta design, assistimos a uma transferência das preocupações de sustentabilidade das margens para o núcleo do projeto. A revolução tecnológica acompanha o movimento, com a descoberta de novos materiais e soluções energéticas mais eficientes. Também no plano estético existem mudanças, e a neossustentabilidade surge como um encontro entre a nostalgia e o futuro, um diálogo entre mundos aparentemente distantes (o rural e o urbano, o artesanal e o industrial, o local e o global), consumado, muitas vezes, em linhas suaves e intuitivas, equilibradas e não contrastadas.

Todos querem subir ao barco. Das grandes empresas, como a norte-americana Emeco, que este ano lançou a 111 Navy Chair, uma cadeira feita a partir da reciclagem de 111 garrafas PET de Coca-Cola, atualizando um clássico dos anos 1940, aos designers independentes, como o Studio FormaFantasma, criador de uma coleção de objetos feita a partir da terra, com materiais orgânicos e improváveis, como farinha, ovo e canela. A onda verde cobre o planeta azul, mostrando como, nos dias que correm, o "estilo de vida" é também, e muito, uma questão de "ciclo de vida".


FONTE: Madalena Galamba (http://www.expresso.pt/)

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