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terça-feira, 28 de setembro de 2010

Voluntários da "Casa do Contador de Histórias" doam tempo e sensibilidade para semear vida

Uma casa que guarda (e espalha) a força do imaginário

“Havia um contador de histórias que vivia feliz a espalhar seus contos para as pessoas. Histórias que faziam todas as gentes despertarem a força do imaginário. Ele contava suas histórias para duas, três, muitas pessoas. Até que um dia, alguém o viu contando uma história para o vazio e o indagou sobre aquele ato solitário. O contador respondeu:- Antes eu contava histórias para mudar o mundo, hoje conto histórias para que o mundo não mude a mim.”

Era uma vez um lugar dedicado à contação de histórias com pessoas que acreditam neste conto, citado acima. Este lugar é real: a Casa do Contador de Histórias, entidade de Curitiba, que surgiu oficialmente em 2003, pela vontade de pessoas de diversas áreas, que já no final da década de 90 usavam o imaginário para transformar. Martha Teixeira da Cunha e seu marido José Mauro dos Santos estão entre os fundadores da casa. Martha, que é psicóloga, já usava a metodologia da contação de histórias com cunho terapêutico e desenvolveu trabalhos nesta área em instituições, antes da fundação da casa. Mauro, filho do ator José Maria Santos, teve contato desde criança com as histórias, as narrativas. Atuou no teatro amador e aliou os contos ao seu trabalho de educador municipal.

Os dois amantes das histórias se conheceram em 1997 durante um sarau na casa de Martha. Mauro queria conhecer aquela contadora de histórias que a todos encantava. Tornaram-se amigos e depois, amores. Ela, com uma memória emotiva familiar: a avó materna, Cenira, que cozinhava e costurava em meio aos contos, e a avó paterna, Zulmira, nordestina conhecedora do folclore brasileiro. Ele, além do pai ator, teve contato com a vida simples do campo, e com o caseiro Timóteo e sua esposa Sebastiana, cheios de bons causos para contar. Tais refenciais de simplicidade fundamentam o trabalho destes contadores. “Cada um tem uma história para contar e isso é bom, pois é o que liga as pessoas”, acredita Martha.

A ideia de criar uma entidade para desenvolver o trabalho social contou com o apoio de amigos. Hoje, a Casa do Contador de Histórias – que é uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Ocip), reconhecida como de Utilidade Pública Municipal desde 2008 – reúne 55 voluntários, que revezam-se semanal ou quinzenalmente, para contarem histórias em onze instituições. Os espaços sociais atendidos abrangem instituições de saúde, de educação e de correção. A missão da casa é resgatar o ato milenar de contar histórias. Os contadores acreditam que é possível ajudar as pessoas a se conectarem aos seus sonhos e ao amor pela vida, despertando a consciência dos valores universais para a construção de um mundo melhor. A formação dos contadores se dá nas oficinas A Arte de Contar Histórias, que são oferecidas periodicamente.

A metodologia utilizada baseia-se no pensar, no sentir e no agir que explica as três pontas do chapéu usado pelos contadores. As contação baseia-se na experiência emotiva das imagens, no conteúdo afetivo da história. O foco é a história e não o contador. “Na narrativa oral há o senso de pertencimento: todo ser humano quer ser aceito. A história diz que você tem um espaço”, explica Martha. Os fundadores acreditam que a história resgata os processos essenciais, como a vontade de viver, de pertencer, de realizar seus sonhos. Por isso, os voluntários as levam para quem precisa: pessoas que se encontram em situação de risco social, doentes ou em situação de confinamento (pela doença, pela violência, pela idade, ou pela dor).

A intenção é de que cada ouvinte experimente nas histórias uma forma de liberdade, seja por meio de um depoimento, de um olhar, uma emoção. Inclusive, a cada roda – em que a fogueira dos antigos contadores está presente, simbolizada pela vela – os voluntários relatam as reações dos ouvintes, que de distantes e ausentes, passam, a cada palavra, a estarem mais presentes e atentos. “Melhorando a condição física e emocional das pessoas”, acrescenta Martha.

Ela ressalta que o imaginário cotidiano, contido nas histórias, é rico em valores, como a amorosidade, a simplicidade, que enfatizam a necessidade de cuidar do outro de forma carinhosa. Mauro lembra que o imaginário liberta. “Quem tem imaginação tem curiosidade, se não sabe de algo, corre atrás”, exemplifica o contador de histórias.

“As pessoas estão com medo de se apoderarem novamente de suas forças do imaginário. Perderam a noção do poder que têm para decisão, para suas escolhas. Isso aconteceu porque se afastaram de seu ritmo simples e natural de viver a vida”, comenta Martha, que esforça-se para, juntamente com os voluntários da casa, recuperar a força do imaginário de cada um, para que ninguém esqueça da magia concreta de um “Era uma vez...”. Esta história é real, mas entrou por uma porta e saiu por outra. Quem quiser, que conte, pense, sinta e faça outra!

Serviço: A Casa do Contador de Histórias recebeu uma sede para suas atividades no Centro Histórico de Curitiba, que está sendo reformada e deve ser aberta em dezembro. Saiba mais, acesse http://www.casadocontadordehistorias.org.br/. Telefone: (41) 9116-0587, e-mail: contato@casadocontadordehistorias.org.br.


Matéria publicada na Edição 19 - Revista Geração Sustentável (Criselli Montipo) Adicionar imagem
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