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segunda-feira, 4 de março de 2013

Tecnologia e Sustentabilidade - Edição 31

Da técnica para a prática


Seminário da Rede Paraná Metrologia expõe metodologias e exemplos do cenário atual da sustentabilidade

Jornalista Bruna Robassa

Disseminar a temática sustentabilidade para seus associados e a comunidade em geral rotineiramente faz parte de trabalhos da Rede Paranaense de Metrologia e Ensaios - Paraná Metrologia. Um seminário com a participação da ambientalista Marina Silva, promovido em dezembro de 2012, marcou essa nova proposta que faz parte da rede há pouco mais de um ano. O evento também contou com a participação de especialistas em metodologias para a aplicação e avaliação da sustentabilidade corporativa, assim como com a exposição de empresas que já adotam práticas e vendem produtos sustentáveis.

“Essa iniciativa da Rede Paraná Metrologia visa trazer para a comunidade paranaense a possibilidade de contatar lideranças e experts do tema sustentabilidade, possibilitando o acesso às boas práticas, cases de sucesso e conceitos atuais que, na continuidade, podem ser inseridos no dia a dia das empresas paranaenses, uma vez que esse tipo de evento normalmente ocorre no eixo Rio – São Paulo”, relata Celso Romero Kloss, diretor superintendente da Rede. Ele também destaca que o evento teve como principais parceiros o Instituto de Tecnologia do Paraná – Tecpar, da FESP e da Revista Geração Sustentável, “sem os quais o evento não seria viabilizado”, lembra.

Um dos organizadores do seminário e principal responsável pela vinda de Marina Silva a Curitiba para participar do evento, o professor, diretor e consultor da empresa de consultoria Civitas Responsabilidade Social e Sustentabilidade, Juvenal Correia Filho, alerta que o momento atual da sustentabilidade nos negócios pode ser distinguido em dois tipos de empresa. “Aquelas que seguem processos arcaicos e fadados ao insucesso e aquelas empresas atualizadas que investem numa gestão participativa e sustentável”, avalia.

Essas, segundo o consultor, e muitos dos seus stakeholders já estão entendendo que a única forma de progredir e garantir a longevidade nos negócios é fomentando a sustentabilidade em toda a cadeia produtiva. “Temos clientes para os quais desenvolvemos as chamadas “’Rede de Valor”, que envolvem seu grupo de fornecedores, objetivando transferir e fomentar a importância de implantar a responsabilidade social empresarial para iniciarem sua caminhada pela sustentabilidade”, conta.

Impacto

Um dado que chama atenção do consultor quanto à medição de impacto que a sustentabilidade tem gerado nas empresas e no mundo é o número de signatários do Pacto Global da Organização das Nações Unidas (ONU). “Finalizamos 2012 com mais de 5.200 organizações signatárias articuladas por 150 redes ao redor do mundo que aderiram voluntariamente ao Pacto Global pela Organização das Nações Unidas (ONU). Só por esse dado é possível perceber o impacto que a sustentabilidade está causando nos negócios”, avalia.

O Pacto Global é uma iniciativa desenvolvida com o objetivo de mobilizar a comunidade empresarial internacional para a adoção, em suas práticas de negócios, de valores fundamentais e internacionalmente aceitos nas áreas de direitos humanos, relações de trabalho, meio ambiente e combate à corrupção refletida em dez princípios. Essa iniciativa conta com a participação de agências das Nações Unidas, empresas, sindicatos, organizações não governamentais e demais parceiros necessários para a construção de um mercado global mais inclusivo, igualitário e sustentável.

Insustentabilidades

O professor nomeia como insustentabilidades os desafios para a sustentabilidade corporativa e que formam uma equação complexa de se resolver. Essa equação, de acordo com ele, no entanto, só será resolvida quando todas as lideranças e organizações entenderem e sentirem como “um problema de todos”. “Destaco, assim, a insustentabilidade da atual distribuição de riqueza no mundo. O consumo afluente de pessoas usando mais do que realmente precisam. Os norte-americanos, por exemplo, preocupados com a obesidade gastam 30 vezes mais tentando emagrecer do que todo o orçamento das Nações Unidas para mitigar a inanição”, analisa. A insustentabilidade das estruturas sociais estabelecidas, que já estão chegando ao colapso devido ao crescimento populacional, a insustentabilidade da carga humana sobre a natureza que já apresenta como resultado a curva ascendente da demanda cruzando a curva descendente dos suprimentos, também são apontadas pelo consultor como desafios para que se avance nessa área.

Protagonismo

Para derrubar esses tipos de barreiras e até mesmo incentivar cada vez mais a sustentabilidade por meio da articulação de eventos e atividades voltadas ao tema, o protagonismo de instituições, como a Paraná Metrologia, é essencial. “Ser protagonista de uma nova economia é atitude reconhecidamente louvável. Esse é o papel que a Paraná Metrologia desempenha neste momento ao trazer o debate da sustentabilidade e registrá-lo com as palavras de Marina Silva e os outros palestrantes”, ressalta o consultor.

Além da palestra de Marina Silva, o seminário contou com a exposição de casos técnicos e práticos. Uma das apresentações foi feita pelo engenheiro Paulo Vodianitskaia, que falou sobre sucesso e sustentabilidade. Ele, que também é diretor de Estratégias Sustentáveis do Instituto Antakarana, entidade que representa a organização internacional de pesquisa e consultoria The Natural Step (TNS) no Brasil, proporcionou uma reflexão aos participantes com base em sua atuação na entidade. “Quais as condições para o sucesso? São as trazidas pelos cientistas que criaram a referência The Natural Step: cuidar de como tocamos, do quanto e do que retiramos da Terra, e do que emitimos; e cuidar das necessidades fundamentais dos seres vivos. Sucesso, que é a melhor tradução de ‘Sustentabilidade’”, relata.

Outra participação importante no seminário foi a do professor Cleuton Rodrigues Carrijo, com a palestra denominada Indicadores de Sustentabilidade: Matriz “Kaiños”. “Esta palavra no grego significa novo, no sentido de melhorado, elevado, de maior excelência a respeito do tema”, explica. Ainda segundo relata o professor, além das dimensões econômica, social e ambiental da sustentabilidade, a Matriz Kaiños incorpora também a dimensão cultural – “no sentido de que qualquer iniciativa empresarial dever ser ao mesmo tempo comportamentalmente transformadora, não basta tirar a pessoa da favela, é preciso tirar a favela, da pessoa – favorecendo escolhas de consumo mais conscientes, além da dimensão espacial – no sentido de que ela deve ser também ao mesmo tempo equilibradamente integradora, dentro de uma nova percepção de mundo, pois vivemos um momento de ruptura sem precedentes em toda a história da humanidade”, explica.

O palestrante ainda explica que o principal objetivo desta matriz, demonstrado na palestra, é resignificar o valor empresarial, ou seja, criar valor futuro sustentável a partir de uma tomada de conscientização mais profunda, “a partir do momento em que a empresa decide galgar degraus mais elevados de maturidade organizacional começando pela excelência operacional, passando pela gestão de clientes, pela inovação em produtos e serviços até chegar num grau de maturidade em que ela incorpora a sustentabilidade em seu DNA – nas pessoas, nos sistemas e nos processos...”, conta. Entre as reflexões proporcionadas pela apresentação, Carrijo lembra: “Pare e pense: qual o prazo de validade da sua empresa? E se ela deixasse de existir hoje, o que o mundo perderia, hein? Lembre-se: devemos SER a mudança que queremos VER. Para TER”, propõe.

Cobertura sustentável

A Solbravo S/A também foi uma das participantes do evento. Além de fabricar um produto que promove a sustentabilidade – telhas que captam a luz solar para produção de energia – faz parte da estratégia da empresa a promoção e difusão de conhecimento sobre a energia solar no Brasil. A apresentação da Solbravo teve como foco principal a grande oportunidade que é a implantação da indústria de energia solar no Brasil. “Primeiro pela grande abundância dessa fonte de energia em todo o território nacional. Por exemplo, o pior lugar no Brasil é melhor que o melhor lugar na Alemanha. Entretanto, a Alemanha já está próxima de atingir 3% de sua energia consumida vindo de fonte solar, enquanto, no Brasil, o valor é 0,006%”, relata Rodrigo Silvestre, diretor da empresa.

Alguns dos principais pontos de defesa da Solbravo quanto ao fortalecimento desse tipo de energia no Brasil estão relacionados com a oportunidade de criação de novos negócios e postos de trabalho em uma nova economia, além de, principalmente, promover uma mudança na visão de mundo dos consumidores. “É na atitude e nos hábitos de consumo das pessoas que reside o sucesso ou o fracasso da indústria de energia solar no Brasil. Isso é válido também para as outras tecnologias de baixo carbono, pois se os consumidores não estiverem dispostos a pagar mais dinheiro pelas soluções de maior valor agregado, então não haverá futuro para essas tecnologias”, analisa Silvestre.

Na prática

Atualmente, a Solbravo produz diversos modelos de telhas fotovoltaicas. Para o diretor da empresa, ao manufaturar esse tipo de produto, a Solbravo permite que as pessoas possam ir um passo além do discurso e começar a atuar sobre o problema. “Por exemplo, se quisermos sair dos atuais 0,006% da energia consumida no Brasil e chegarmos a 2% da energia, teremos que instalar 2.346.807.776 telhas (com base no consumo de energia em 2009). É pouco provável que isso possa ser feito por um único cliente ou mesmo pelo governo, mas poderia ser atingido facilmente se cada habitante instalasse apenas 12 telhas. É tudo uma questão de escolha e oportunidade. Nosso papel é construir as oportunidades e depois cabe ao consumidor essa escolha”, sugere o empresário.

Outro exemplo prático apresentado no seminário foi sobre a Embafort, empresa de embalagens industriais e sistemas construtivos em madeira. “Apresentamos aspectos relacionados à inovação e sustentabilidade na área de construção civil a seco, utilizando materiais fabricados à base de madeira de reflorestamento certificada”, conta Carla Rabelo Monich, coordenadora de Qualidade e Gestão Integrada. A Embafort desenvolve produtos, como embalagens automotivas, embalagens para exportação, engradados e peças especiais, destinados ao transporte seguro de produtos. Além de fornecer o produto, a empresa também oferece soluções sobre qual a melhor maneira de transportar cada mercadoria. Ainda segundo Carla, a empresa está buscando cada vez mais alinhamento com os quesitos de sustentabilidade. “Temos utilizado uma abordagem por ciclo de vida de produto, indo ao encontro da Política Nacional de Resíduos Sólidos e da ISO 14025 – rotulagem ambiental”, relata.



















O seminário

Formadores de opinião das mais variadas organizações participaram do seminário promovido pela Paraná Metrologia, em dezembro de 2012. “Contamos com um público bastante eclético, não só na faixa etária como na formação acadêmica. O feedback dos participantes ao final do evento foi muito positivo”, relata o consultor Juvenal Correia Filho.

Na ocasião, Marina Silva avaliou que a crise civilizatória que estamos vivendo é diferente de todas as outras ocorridas na história da humanidade, já que engloba todo o planeta. “Creio que a principal mensagem deixada pela ambientalista é que o desafio é muito maior e que a solução está na busca de um novo modelo, acabando com o modelo atual que é predatório e insustentável”, lembra. Esse novo modelo deverá buscar a sustentabilidade nas dimensões econômica, social, ambiental, cultural, estética, política e ética.

De acordo com Celso Romero Kloss, da Paraná Metrologia, a Rede compromete-se em repetir este ano uma nova edição do evento. “Ocasião em que novos líderes e especialistas terão participação ativa dentro do mesmo conceito de disponibilizar boas práticas, tecnologias e casos de sucesso da implementação da prática da sustentabilidade no ambiente empresarial”, destaca.

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Veja outros conteúdos dessa edição:



Matérias:

- Capa: O Desafio da destinação dos resíduos sólidos
- Entrevista: Marina Silva
- Visão Sustentável: Cativa Natureza promete beleza de forma sustentável
- Responsabilidade Social Corporativa: (Cpce Conselho Paranaense de Cidadania Empresarial) Realização de 2012 e Projetos 2013
- Desenvolvimento Local: A sustentabilidade como inspiração (WTC)



Artigos:

- Artigo: O "Pibão" da Presidenta Dilma (Jerônimo Mendes)
- Artigo: O Marketing e o ciclo de vida sustentável de produto (Hugo Weber Jr)
- Artigo: Turismo Sustentável - Have you heard about it? (Rosimery de Fátima Oliveira)
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