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terça-feira, 3 de julho de 2012

A sustentabilidade como profissão

Profissionais de renome falam sobre presente e futuro dessa área de atuação



Nunca se ouviu falar tanto em sustentabilidade como nos dias atuais. As empresas estão cada vez mais conscientes de que precisam adotar cuidados para não agredir o meio ambiente e que a sustentabilidade é algo cada vez mais necessário. Ganhar dinheiro sem pensar nas consequências dos processos de produção para a sociedade e para a natureza deixará de ser, cada vez mais, a realidade de muitas empresas. E é diante desse cenário que o espaço para atuação de um profissional de sustentabilidade vai aumentando.

A crescente importância desta nova profissão motivou, inclusive, a criação de uma associação que é comprometida com as causas e as pessoas que atuam nesta área. A Associação Brasileira dos Profissionais de Sustentabilidade (Abraps) iniciou seus trabalhos no sudeste e desde o fim de 2011está atuando aqui na região sul. O primeiro evento promovido pela Abraps Sul foi um debate com cinco profissionais de renome nacional e internacional, mas que tem Curitiba como cidade sede. Apesar de atuarem em diferentes áreas, a sustentabilidade é algo em comum em suas vivências.

Entre os reunidos estavam o headhunter Bernt Entschev, empresário com mais de 36 anos de experiência e fundador da empresa De Bernt, especializada em Executive Search. Segundo ele sustentabilidade ainda não faz parte dos requisitos de contratação como deveria fazer, no entanto, destaca que todos deveriam ter esse tipo de conhecimento. “Sustentabilidade não é uma profissão, é uma missão de todos”, diz.

Nelton Friedrich, diretor de coordenação e meio ambiente da Itaipu Binacional, também foi convidado a participar do evento que teve como tema o profissional de sustentabilidade. Para ele sustentabilidade significa celebração da vida. “É preciso reconhecer a abordagem e complexidade da natureza e romper algumas barreiras que foram criadas”, relata.

O fundador da Nutrimental Rodrigo Rocha Loures foi igualmente convidado pela Abraps Sul para discutir sobre o perfil do profissional de sustentabilidade. “O tema veio à tona nas décadas de 50 e 60 quando se percebeu que os recursos eram finitos. Antes disso todos agiam sem uma preocupação com os recursos naturais”, lembra. Ainda de acordo com Loures os processos estão evoluindo com uma dinâmica em que só a questão ambiental não é suficiente para definir sustentabilidade. “Isso porque todo mundo busca bem-estar. O desafio é encontrar maneiras de proporcionar o conforte sem que isso afete negativamente o meio ambiente. A sustentabilidade está ao alcance de todos, só é preciso fazer as escolhas certas”, afirma.

O professor na área de sustentabilidade e inovação na Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), Eloy Casagrande Jr, também presente no evento promovido pela Abraps Sul em Curitiba, também defende que é preciso mudar hábitos sempre, já que é fácil se acomodar. “É muito difícil tirar as pessoas da sua área de conforto. O consumismo já está muito embutido na cabeça das crianças e dos adolescentes, principalmente. Hoje, ao mesmo tempo em que a criança recebe educação ambiental é constantemente estimulada a usar o tênis da moda, o ipad e o iphone”, relata. Nesse mesmo contexto o headhunter Entschev defende que alcançar a sustentabilidade requer uma mudança de paradigmas e conceitos do que é ser feliz. “Felicidade é muitas vezes comparada a ter dinheiro, carro, enfim, ao consumismo. É por isso que digo que sustentabilidade é um processo de evolução, uma mudança de mentalidade”, opina.

Sustentabilidade e política

A questão da sustentabilidade e a sua relação com o consumismo, em especial, vai demorar para virar questão política, conforme analisa Friedrich. No entanto, o diretor da Itaipu lembra que o Brasil é visto como protagonista na questão de sustentabilidade pelos países do exterior. “Já existem leis e políticas, estamos avançando, o que não significa dizer que estamos bem, porque o senso da urgência ainda não chegou. Para fazer sustentabilidade é preciso uma mudança profunda das questões políticas”, alerta.

Como caso concreto de políticas públicas sustentáveis que já estão funcionando no Brasil, o diretor cita o caso de escolas que já oferecem merenda escolar orgânica para os alunos. E o Paraná é pioneiro nesta prática. Publicada no Diário Oficial do Estado do Paraná em 6 de janeiro de 2011, a Lei 16.751, de 29 de Dezembro de 2010, institui, no âmbito do sistema estadual de ensino fundamental e médio, a merenda escolar orgânica. “Não foi uma conquista fácil”, relata Nelton. Em termos de sustentabilidade, essa prática traz benefícios tanto para o meio ambiente quanto para a sociedade já que protege a saúde das crianças e incentiva a produção ecológica.

Afinal, quem é o profissional de sustentabilidade?

Para Rodrigo Brito, fundador da Organização Não Governamental (ONG) Aliança Empreendedora, também presente no evento promovido pela Abraps Sul, hoje não existem nem empresas, nem governos, mas sim pessoas com conhecimentos e hábitos sustentáveis. “Quem está por trás das organizações é que faz a diferença. São as pessoas que tem capacidade para criar”, pontua.

O professor Eloy Casagrande diz que ainda há grande dificuldade em formar um profissional para atuar nessa área. “O entusiasmo e a motivação são essenciais. Não é um curso que irá formar o profissional ideal, muitas vezes são os acontecimentos tocantes da vida que garantem uma boa formação”, conta Eloy citando um amigo que entrou na área de mobilidade urbana para deficientes físicos por conta de uma vivencia pessoal.

Ser organizado e entender de gestão são os conhecimentos necessários ao profissional de sustentabilidade segundo Rodrigo Rocha Loures. “Além disso, é preciso ser psicólogo, sociólogo, ou seja, entender esses conceitos, mas, acima de tudo, precisa ser humano”, diz. Para ele ainda falta articulação para que algumas coisas aconteçam dentro das empresas. “É preciso ser um moderador, um facilitador, não um educador, mas acima de tudo um profissional das relações humanas”, finaliza.

O headhunter Bernt Entschev acredita que quem trabalha nessa área deve ser multifacetado já que as características essenciais variam de uma empresa para outra. “É preciso saber trabalhar em várias vertentes”, conclui. Ainda segundo ele sustentabilidade não é algo que se aprenda na escola ou na faculdade. “O desenvolvimento de habilidades que resultem em ações concretas é uma das formas de cultivar hábitos sustentáveis”, reflete.

Sustentabilidade não é ação solidária e nem pode ser vista como gasto pelas empresas. O profissional que atua nessa área precisa usar a inteligência e não pode ser preguiçoso na hora de criar. É o que pensa Rodrigo Brito da Aliança Empreendedora. “Não vamos avançar se continuarmos a pensar dessa forma”, alerta.

Sobre a Abraps

A Associação Brasileira dos Profissionais de Sustentabilidade (Abraps) foi criada com o objetivo de representar, conectar e fortalecer a atuação do profissional de sustentabilidade, responsabilidade social corporativa, cidadania corporativa e investimento social privado, entre outras.

“Entre nossos objetivos está a representação formal dos profissionais de sustentabilidade junto a sociedade. Além disso, a associação busca articular e mobilizar profissionais dedicados ao assunto, compartilhando, fomentando e construindo o conhecimento”, destaca a coordenadora de Expansão da Abraps e representante do Grupo Sul, Daniella Mac Dowell.

Jornalista Bruna Robassa


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Veja outros conteúdos dessa edição:

Matérias:

Tecnologia e Sustentabilidade: Energia solar: um sonho de consumo

Visão Sustentável: Software de gestão corporativa promove autossustentabilidade para empresas

Responsabilidade Social Corportativa: Responsabilidade empresarial com futuro


Artigos:

Marcio Zarpelon: Sustentabilidade na Cosntrução Civil

Ivan de Melo Dutra: Subsídios do governo brasileiro

Jeronimo Mendes: Aprendendo com a crise
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